segunda-feira, 4 de maio de 2009

RESENHA: TRABALHO NA SOCIEDADE CAPITALISTA

DRUCK, Graça; Algumas considerações teóricas sobre o trabalho na sociedade capitalista. In: CARVALHO, Maria do S. N.; ARAÚJO, Nailsa; ARAÚJO, Vilma A. de. (Org.). DSS e Economia Solidária – Debates Conceitual e Relato de Experiência. Recife: Bagaço, 2000. p. 11-23.

Tiago Souza de Figueiredo

Graça Druck graduou-se em economia pela Faculdade de Ciências Econômicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1975), mestrado em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (1989) e doutorado em Ciências Sociais no Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (1995). Realizou pós-doutorado na Université Paris XIII (2006/2007). Hoje professora da Universidade Federal da Bahia no Departamento de Sociologia da FFCH. Possui vários trabalhos publicados, entre eles livros, artigos, capítulos de livros e anais na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia do Trabalho, principalmente nos seguintes temas: trabalho, flexibilização, precarização, reestruturação produtiva, terceirização, informalidade e sindicatos.
O texto analisa a crise do trabalho e do emprego que alguns autores defendem atualmente. Definindo o trabalho como duas categorias teóricas, com o sentido filosófico e sentido histórico, a autora demonstra que os equívocos ocorrem ao tentar compreender apenas o trabalho pelo viés histórico capitalista enquanto trabalho assalariado, mediando relações de compra e venda da força de trabalho, esquecendo do sentido filosófico, do trabalho como o modo pelo qual o homem transforma a natura, potencializa sua capacidade criadora, essência dos homens o trabalho planejado e racionalmente pensado.
Para tanto, a mesma, recorre à Marx para mostrar que exploração do trabalhador se da pelo processo de apropriação da força de trabalho subsidiada pela divisão social do trabalho, alienando os trabalhadores a partir de três mecanismos: a separação do trabalhador dos meios e dos instrumento de trabalho, a separação e desapropriação do produto de seu trabalho e por fim o estranhamento e afastamento dos homens do resultado de sua atividade produtiva, fazendo com que o mesmo não reconheça sua ação como fundamental para realização do produto, da mesma forma que não se vê como sujeitos capazes de produzir e transformar a história.
Druck argumenta a sociedade capitalista também justifica a necessidade da divisão social do trabalho ao distinguir separadamente força de trabalho de trabalho como algo sem relação de co-existência, na qual a primeira nada mais é que o potencial, a capacidade física e intelectual que os homens têm de realizar trabalho enquanto a outra é a realização de uma determinada força, de uma determinada capacidade humana, física ou intelectual. Assim para garantir esse trabalho o capitalista deve encontrar formas de organizar, disciplinar, controlar o trabalhador hierarquizando as atividades, criando relações de dominação, comando, subordinação do trabalhador.
O processo de acumulação de riquezas, fruto da exploração do trabalhador é garantido pelos excedentes de produção, que são gerados pelo acréscimo de horas ao tempo de trabalho necessário para cobrir os custos de produção e a reprodução para sobrevivência, essa adição de horas de trabalho é conhecida como mais-valia.
Baseada em Marx a autora defende que toda mercadoria é fruto de trabalho humano, apesar do “fetiche da mercadoria” que devido ao seu valor social, a sua exclusividade e ao seu ineditismo alteram o valor dos produtos, o que determina a essência do valor da mercadoria é a quantidade de trabalho social necessário para sua produção.
Druck apresenta financeirização da economia ponto em que alguns autores contestam a centralidade do trabalho defendida por Marx, entretanto ela rebate às críticas mostrando que essa financeirização onde dinheiro produz dinheiro sem passar pela mercadoria só existe devido a uma acumulação anterior, resultados de processos exploratórios do trabalho.
Por fim a autora conclui que a crise do trabalho a qual alguns autores refere-se, trata-se de uma crise trabalho fordista, o trabalho socialmente protegido, do emprego, das garantias sociais. E deixa um questionamento quanto às possibilidades de reestruturação das atividades produtivas que podem provocar uma crise no sistema capitalista.


Apesar da densidade da temática tratada no texto a autora apresenta argumentos justificáveis que nos permite compreender como historicamente a alienação do trabalhador, divisão social do trabalho e as relações de mercado, no capitalismo, conferiu ao trabalho abstrato ou social a centralidade nas estruturas sócias de poder e como ao logo da história esses mecanismos vêem se tronando mais complexo e perverso, explorando, subordinando e subjugando a massa trabalhadora.

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